Assassinato de reputações
“Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.”
Paulo Leminski
Depois de seis longos anos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal arquivou definitivamente uma investigação irresponsável, com viés político e sem nenhum fundamento, envolvendo seis Senadores da República. O caso ficou conhecido como o Quadrilhão do PMDB no Senado. Nome midiático escolhido para tentar criminalizar a política, um dos objetivos da mafiosa operação Lava Jato. Tal investigação fez a espetacularização da justiça ao instrumentalizar o Judiciário e o Ministério Público. Corromperam o sistema de justiça e promoveram muitas iniquidades.
Como advogado de quatro Senadores, no mencionado inquérito, um deles ex-Presidente da República, gostaria de tecer breves considerações que passam ao largo da visão vingativa e punitivista da maioria. Em primeiro lugar, a decisão de abrir uma investigação contra os políticos mais prestigiados do país seguia uma lógica de poder. Era necessário matar a “velha política” para que seus “críticos” se apresentassem como a nova opção. Com rara hipocrisia e senso de oportunismo. Isso foi cristalizado com as eleições do Bolsonaro, do Moro e do Deltan. Por felicidade, o nível escatológico dos que foram eleitos em decorrência do desastre da operação Lava Jato não permitiu que esse esquema de corrupção da democracia se fortalecesse.
A estratégia era criminalizar a política, desmoralizar seus tradicionais integrantes e se apresentar como uma nova alternativa. Algo messiânico com os pés no fascismo. E tiveram êxito em um primeiro momento. Foi exatamente com esse movimento que elegeram Bolsonaro para Presidente e escolheram o Moro para Ministro da Justiça. Caíram – e ainda estão caindo – de podres, mas conseguiram chegar ao poder. Caso não fossem medíocres e corruptos, poderiam se perpetuar no comando com o falso discurso apolítico. Interessante notar que as operações espetaculares e midiáticas contra os Senadores fizeram com que quase todos perdessem as eleições. Dos quatro Senadores que advoguei nesse inquérito, nenhum exerce mandato hoje. Assim como o Governador Marconi Perillo, em Goiás, que estava em primeiro lugar para o Senado e, pouco antes das eleições, foi vítima de uma operação fajuta, a qual fez com que ele ficasse em quinto lugar. Um crime. Um acinte. Uma espetacularização que só servia aos interesses do grupo que dominava a Lava Jato.
Além do irreparável prejuízo político dos que foram vítimas da fúria lavajatista, não podemos nos esquecer da imensa dor pessoal de cada um. Homens que se dedicaram, por toda a vida, à política e que colocaram seus nomes, várias vezes, para o escrutínio popular. Eles foram Presidente da República, Governadores, Ministros de Estado, Senadores e foram humilhados por um arranjo criminoso, sádico e cruel da operação Lava Jato e de parte da mídia. Pude, como advogado de vários deles, acompanhar, no silêncio dos momentos mais difíceis, a perplexidade pela exposição midiática orquestrada para criminalizar a atividade política. Cada um sofreu, no fundo da sua alma, a dor da faca afiada da injustiça. E foi por uma bagagem de anos de uma vida democrática que resistiram e que enfrentaram o sistema que visava a torná-los párias na vida nacional. É em homenagem a eles que eu registro minha luta por um Estado democrático de direito no qual a Constituição seja o nosso guia, lembrando-me de Bertolt Brecht:
“Pelo que esperam?
Que os surdos se deixem convencer e que os insaciáveis lhes devolvam algo?
Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los!
Por amizade os tigres convidarão a lhes arrancarem os dentes!
É por isso que esperam!”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay