CLÁUDIO CASTRO, NETANYAHU E TRUMP: A TRÁGICA DISPUTA PELO NOBEL DA PAZ

Mas eu tô nem ai

Eu quero é que se exploda a periferia toda

Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta.

Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida.”

Max Gonzaga, canção Classe Média

 

“A carne mais barata do mercado é a carne negra.”

Elza Soares, canção A Carne

 

A chacina covarde e cruel que ocorreu no Rio chocou o mundo inteiro. As fotos dos cadáveres amontoados e enfileirados no meio da comunidade, com sinais de tortura, de assassinatos por faca e com evidências de execução por tiros na nuca, o sangue derramado, tudo isso causou náusea e até ânsia de vômito. A imagem de guerra colocou o nosso Rio de Janeiro em uma posição de lugar sem comando, de terra de ninguém e de um lugar aonde não se deve ir. A barbárie foi tão violenta e acintosa que era difícil olhar para as imagens sem sentir que todos nós morremos um pouco com tanta violência.

 

Mas o que mais demonstra a falência da humanidade não é nem só a crueldade estúpida das mortes. O que impressiona, de maneira inexplicável, é constatar que toda essa ação criminosa foi pensada como um jogo político. Uma estratégia de impor uma visão trágica de como deve agir o Estado diante do caos da segurança pública. O que nos exaspera é perceber que os 138 mortos foram executados como parte de uma trama macabra. Ninguém pode admitir que, durante o desenrolar do massacre, os responsáveis perderam o controle e foram além do planejado.

 

Na verdade, havia plano nessa barbárie. E a sensação que restou é a de que, para o governador Cláudio Castro e para boa parte das “pessoas de bem”, a morte de 138 cidadãos brasileiros faz parte do necessário enfrentamento ao crime no Rio de Janeiro. O governador teve a desfaçatez de declarar isto: “A operação foi um sucesso!”. E, criminosamente, desdenhou das mortes que impactaram o mundo ao afirmar que “Foram só quatro vítimas!”. Ou seja, os 134 assassinados não são computados como seres humanos. E, parece evidente, o número de mortos ainda não está fechado.

 

São várias as situações de perplexidade. Mas, talvez, o apoio de boa parte da sociedade é que mais deixa exposta a putrefação do mundo em que vivemos. Vários dos mortos foram executados e não se pode sequer afirmar que faziam parte da facção criminosa que era objeto da desastrada operação.

 

Quem mora em comunidade como a da Penha, embora a grande maioria seja honesta e trabalhadora, não pode ter a pretensão de ser sujeito de direitos. O Estado, que foi omisso ao permitir que o crime organizado o substituísse, oferecendo aquilo que cabia a ele oferecer, ainda se dá ao direito de ser ele, o Estado, o maior transgressor, patrocinando a barbárie. Há uma disputa, não mais oculta, de quem são os criminosos. E o que mais dói é ver a concordância das pessoas, explícita ou velada, envergonhada, desses massacres por parte da autoridade pública.

 

A extensão desse apoio à barbárie, certamente, vai resultar em mais violência, em balas perdidas, em arrastões e em domínio do crime no asfalto das cidades. Estamos perdendo a luta e somos nós mesmos, todos nós, as vítimas da macabra confusão criminosa.

 

Tudo me remete à tristeza do verso eterno de João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina: “Morte que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia”.

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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