LISBOA E SÉRGIO MORO: DA POESIA À REALIDADE

A vida dá, nega e tira.”

Parafraseando Trasíbulo Ferraz

 

Conta a lenda que, certa vez, perguntaram ao grande Jorge Amado qual prêmio ele mais tinha gostado de ter recebido. Logo ele que, merecidamente, recebeu tantas distinções importantes. E ele contou um inusitado. Ele estava andando por uma pequena vila de Portugal à noite, com sua amada Zélia Gattai, sob uma lua linda. Ao virar uma esquina, depararam-se com uma menina sentada em um banco, com um gatinho ao colo. O gato, assustado, pulou no chão e começou a correr. A menina, desesperada, gritou: “Nassif, volte aqui, Nassif”. Curioso, nosso escritor perguntou à menina: “Por que seu gato se chama Nassif?”. A menina respondeu, candidamente: “Porque é macho; se fosse fêmea, seria Gabriela”.

 

Esse era o Portugal em que os portugueses, quando iam a Paris, diziam: “Estou indo à Europa”. Agora, a Europa inteira vai a Portugal. Caminhando pelas ruas de Lisboa, é possível ouvir, ao mesmo tempo, várias línguas diferentes. É como se o mundo inteiro tivesse acordado para estar aqui, em um lugar seguro, mais barato do que as grandes capitais europeias, mais quente e com uma comida que arrebata. Sem contar o vinho que, atrevidamente, quer comparar-se a Bordeaux. Um país que tem como seu poeta maior Fernando Pessoa que, com seus múltiplos heterônimos, ocupa o imaginário dos amantes da literatura. Até mesmo praia os portugueses agora gostam de se gabar de que têm. Claro que está longe de ser um mar da Bahia, mas é possível perceber os encantos da costa portuguesa.

 

E a Europa é uma roça, como diriam lá em Patos de Minas. Pego o avião com a cabeça em Pessoa e no meu Portugal e, em duas horas, chego a Paris com uma busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba. Não há poesia nem Fernando Pessoa que consigam dar jeito. A busca é determinada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal. Logo, é contra uma pessoa com foro privilegiado. É importante frisar que, durante todo o reinado da República de Curitiba, o titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, que cometeu inúmeros crimes e abusos, era o hoje senador Sérgio Moro. Ele e seus procuradores adestrados.

 

Com todos os cuidados para não ser leviano, como era o grupo criminoso da Lava Jato, é essencial acompanhar essa busca e apreensão.

 

O Conselho Nacional de Justiça, por meio do competente e sério ministro Luis Felipe Salomão, aprovou relevante relatório que apontou crimes gravíssimos contra Sérgio Moro e seu grupo de elite. Não é possível que uma decisão colegiada do CNJ não produza nenhum resultado.

 

A Lava Jato ainda é forte. Está viva. Tem tentáculos na procuradoria-geral da República, infelizmente, tem um bom respaldo em grupos poderosos da Polícia Federal e, que lástima, no Poder Judiciário. É razoavelmente fácil de entender, afinal, são os podres criminosos que, se levados a ferro e fogo, acabam esbarrando em quem, embora não fosse cúmplice dos crimes da República de Curitiba, fazia vista grossa, fingia de surdo-mudo. Gostavam dos podres poderes. Não sujavam as mãos de sangue, só de lama. E se sentiam puros.

 

Por tudo isso, é possível brindar, em um mesmo dia, à poesia de Pessoa, ainda em terras portuguesas, e à operação necessária contra os esgotos da Lava Jato. É claro que é difícil, anos depois, encontrar provas contra o grupo criminoso. Mas, é bom lembrar, são indigentes intelectuais.

 

No processo dos golpistas, condenados pelo Supremo Tribunal, quase toda a prova foi produzida pelos próprios acusados. Mas, independentemente da prova obtida com a busca e apreensão, o mais importante é voltar o foco para o grupo da República de Curitiba.

 

Independentemente do resultado da busca e apreensão, o relatório do Conselho Nacional de Justiça foi votado e aprovado pelo plenário. A imputação de crimes contra os líderes da República de Curitiba é expressa. Por isso que, aqui do Café de Flore, em Paris, chegando de Lisboa, pergunto-me: a busca e apreensão vai, finalmente, tirar o relatório aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça da gaveta?

 

Lembrando-nos, outra vez, do grande Paulo Leminski: “Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”.

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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