CAFÉ DE FLORE, YOUSSEF, SUPREMO TRIBUNAL E O PREGO NO CAIXÃO

“Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho.”
Pessoa, Livro do Desassossego
A família Bolsonaro está sendo esturricada. Embora, talvez, não perceba, por não conseguir entender minimamente a gravidade do que ocorre. A humilhação a que está sendo submetida é algo dilacerante. É um bando estranho, com códigos próprios. Falam para um grupo que, claramente, não consegue perceber a noção do ridículo. Como “se deram bem” – elegeram Presidente, senador e deputado federal – e ficaram bilionários, pouco importa qualquer outra discussão. Eles vão ser todos presos e vão continuar contando a história da vida deles para uma turma que continuará os apoiando. Coisas que ninguém nunca conseguirá explicar. Será preciso trabalhar a hipótese de prisão familiar, eles se merecem.
A questão da tarifa imposta pelo governo americano aos produtos brasileiros, obviamente, não tem nenhuma relação com o Bolsonaro. A megalomania do Eduardo Bolsonaro e de alguns obtusos bolsonaristas que tentam emplacar uma versão quase heroica: concedam a anistia que o Trump volta atrás. Muito ridículo. É de dar vergonha alheia. O governo Trump acaba de anunciar uma tarifa ainda maior para a Rússia. Será que se anistiar Bolsonaro a tarifa russa também vai cair?
O completo non sense da família Bolsonaro, ameaçando o Congresso, colocando o Brasil como refém de uma ação típica de milícia, dizendo que são melhores negociadores do que o Itamaraty, só expõe o nível desse clã que saqueou o país por 4 anos. Nada disso surpreende, nós sabemos do que eles são capazes. É um caso de polícia. Agora basta esperar o Ministério Público e o Poder Judiciário agirem. Simples assim.
Com toda essa confusão, quem está sendo testado é o governador Tarcísio de Freitas, dentre outros. Contudo, ele parece que rasgou a fantasia e ficou nu. Foi anunciado pela jornalista Mônica Bergamo – e só por isso a informação teve credibilidade – que o governador de São Paulo interferiu, junto ao Supremo Tribunal, para solicitar que Bolsonaro voltasse a ter passaporte para ir aos EUA negociar a questão tarifária com o Trump! Não pode ser verdade.
Sob qualquer ângulo, essa proposta é mais esdrúxula do que a chantagem que o Eduardo Bolsonaro faz ao Congresso e ao Supremo. A postura infantil e ridícula dele fez com que até o Estadão, em editorial, alertasse sobre a necessidade de deixar Bolsonaro para trás, no ostracismo. Todos sabemos que não será possível agora. Em menos de 2 meses, ele e seus asseclas estarão condenados a mais de 30 anos de cadeia. O ostracismo só virá depois da prisão.
O que impressiona são os movimentos do governador de São Paulo. Tido e havido como um Bolsonaro que sabe sentar à mesa e usar garfo e faca. Tarcísio quer ser Presidente da República. Esqueçam qualquer limite. O que ele precisa agora é do apoio do Bolsonaro. Ainda, claro, que torça e trabalhe, na realidade, para a prisão do Bolsonaro. Esqueça qualquer ética. Ele pediu, repito, para o STF liberar o Bolsonaro para ir aos EUA dialogar com Trump! É uma piada. A vida dessa família e dos seus seguidores é uma grande piada. Com consequências graves para o país e para o Estado democrático de direito.
Em um primeiro momento, há notícias de que até o empresariado paulista se indignou com a tragédia do movimento do Eduardo Bolsonaro X Trump com a tarifa de 50%. Falaram até em abandonar a ultradireita.
Desconsidere. Nada disso é sério. Em qualquer circunstância, esse empresariado estará com Tarcísio. Não há outra hipótese. A não ser que o Lula esteja forte, aí o governo de São Paulo passa a ser uma opção fantástica. Segura. O governador faz o jogo dele. Apanha até do Estadão. Mas, claro, nada que signifique um susto no apoio da extrema direita, agora chamada de civilizada.
É um jogo jogado. Falta só combinar com o povo. Esquecem que toda essa direita – civilizada, incivilizada, brutal e assassina -, nos últimos anos, tomou 5 surras do velho Lula. Três com ele e duas com a Dilma. Enlouqueceram. Fizeram um impeachment sem crime. Elegeram um fascista. Prenderam, de maneira covarde e cruel, por 580 dias, o Lula. E ele voltou e ganhou. É isso. Não se lembram de que têm que combinar com o povo brasileiro.
É bom lembrarmos de Bertolt Brecht:
“Pelo que esperam?
Que os surdos se deixem convencer
e que os insaciáveis lhes devolvam algo?
Os lobos os alimentarão,
em vez de devorá-los!
Por amizade
os tigres convidarão
a lhes arrancarem os dentes!
É por isso que esperam!”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay