CANSEI DE MIM

“Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.”
Fernando Pessoa, poema Tabacaria
Cansei-me da elite brasileira! E eu sou parte dela. Cansei de mim.
Branco, com acesso aos Poderes, formado pela UnB e com mais condições de vida do
que a absoluta maioria da população. Mas, que coisa nós viramos! Um Brasil triste,
capenga e ridículo. Termos ainda 30 % dos brasileiros apoiando o crápula do Presidente
diz muito sobre quem nós somos: um país que nega a existência do navio negreiro, que
teima em dizer que não há racismo e que convive com a violência e a misoginia. Uma
aristocracia que ganha dinheiro com a miséria. Nós somos uma sociedade que aceita
sentar-se com o Bolsonaro defensor de torturadores, que cospe nas mulheres, que
cultua a morte e exalta a tortura.
A pior representação do que poderíamos imaginar. Vamos esquecer daquela ideia do
brasileiro cordial. Vamos fixar no brasileiro sacana, covarde e indiferente com a pobreza,
com a fome e com o desemprego. Naquele para o qual pouca importa se nosso sofrido
povo está em estado de abandono – com 14 milhões de famélicos e 20 milhões de
desempregados. Essa é a nossa elite.
Às vezes, como elite que sou, fico andando pela Europa, ainda que a trabalho, e devo
dizer que não vejo aqui o ambiente tóxico que temos no dia a dia da imprensa brasileira.
É difícil ter, como temos, alguns jornalistas viúvos do ex-juiz Sérgio Moro e que se
apresentam como ícones. Parece não existir fundo nesse buraco. Nós somos o fim do
tal poço.
Mas, ainda assim, é preciso resistir às tragédias diárias. Não é possível viver somente
entre uma guerra sanguinária de uma ocupação covarde e bandida e um Brasil se
desmilinguindo como povo e como nação. Hoje, somos uma imagem pálida do que
éramos na era do Lula. O bando chefiado pelo Moro, que foi o principal eleitor do
bolsonarismo, a serviço de grupos que precisam ser desmascarados, roubou o que
tínhamos de mais nosso: uma identidade orgulhosa de um país.
Sendo lulistas ou não, temos apenas uma chance de voltar a ter o Brasil de volta:
derrotar esse projeto obscurantista. Vamos vencer o fascismo, confrontar os
representantes da barbárie e fazer um Brasil feliz de novo!
Na verdade, não estamos a pedir muito. É um pouco de respeito, uma pitada de amor,
um carinho pelas pessoas que estão absolutamente desprotegidas e um afago, no
limite. Até, quem sabe, um abraço amigo. Ou seria pedir demais um contato assim,
quase amoroso, com quem esses bárbaros cuidam de afastar das nossas vidas? E
vamos enfrentá-los em todas as áreas.
Ainda agora, o Superior Tribunal de Justiça condenou um dos membros daquele bando.
O tal Deltan foi condenado a pagar ao Lula, pela leviandade do uso do power point, um
valor a título de danos morais. Um gesto mínimo de respeito por parte do Judiciário. Um
reconhecimento de que a breguice, o uso político e a ausência de técnica jurídica do
Ministério Público não podem prevalecer. Deltan não é só corrupto e incompetente; ele
é coitado, brega e vulgar. E a sua reação contra o Tribunal foi de um destempero de
quem se julga acima das instituições.
É o começo do fim do grupo que Moro comandava. Vamos garantir a eles os direitos
que eles desprezaram. Todos, inclusive o da prisão somente após o trânsito em julgado.
Sem vingança, apenas com respeito à Constituição.
Remeto-me ao grande Castro Alves, em O Navio Negreiro:
“Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Deixe um Comentário





Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.