INDIGENTES INTELECTUAIS

É preciso falar de esperança todos os dias. Só para que ninguém esqueça que ela existe.”

Mia Couto

 

A exuberante e poderosa demonstração de força da Democracia nas ruas foi de devolver a esperança para os incrédulos. Uma manifestação quase improvisada, convocada de última hora, lotou as ruas do Brasil inteiro. Muito mais do que a força da esquerda, o que se viu foi a presença massiva dos democratas, dos que estão com nojo dos atos golpistas, dos que abominam a truculência bolsonarista, dos que estão cansados da ignorância e dos que querem ter o país de volta. Foi interessante ver a nossa bandeira tremulando com as pessoas orgulhosas. E o amarelo andando no meio da multidão.

 

Lembro-me de que, no primeiro ato público após a pandemia, em Brasília, fui com uma camisa amarela. E escrevi um texto sobre a necessidade, então, de resgatar os nossos símbolos sequestrados pelo fascismo. Chamado a falar em cima do caminhão, fiz um chamamento à Democracia e à resistência. No último domingo, foram dezenas de fotos que tiraram comigo, com as pessoas saudando a Democracia e de volta às ruas. Foi muito emocionante.

 

A falta de visão política, de humildade e, claro, o desespero de saber que as celas da cadeia estão preparadas para receber o líder Bolsonaro e seus asseclas mais próximos fizeram com que o grupo de extrema direita cometesse erros primários. Pressionaram o Presidente da Câmara para empurrar goela abaixo uma PEC que protege criminosos – e escancara o Parlamento para facções criminosas, milícias, narcotráfico – e um projeto vergonhoso de anistia – que bate de frente com a vontade popular e, se passasse, jogaria o Supremo Tribunal no fogo.

 

A quase totalidade da Corte já se manifestou no sentido de que a anistia sobre esse tema é inconstitucional. Qualquer deputado ou senador que a apoiasse sabia, antecipadamente, que o assunto seria levado ao plenário do Supremo e o Tribunal teria que declarar a sua inconstitucionalidade. Estariam conscientemente jogando a Suprema Corte contra as pessoas. Atitude irresponsável e golpista.

 

É necessário ter inteligência emocional nesta hora. Os bolsonaristas de extrema direita são, em regra, indigentes intelectuais. Agem sob impulso. Como conseguiram, em 2019, chegar ao poder, acham que podem tudo. Criaram uma conexão própria com um bando de pessoas acríticas e que acreditam nas maiores barbaridades. A realidade atual está mostrando que a situação deles é desesperadora.

 

O líder Bolsonaro está condenado a 27 anos de cadeia. Não teve nenhuma manifestação relevante após o julgamento. Bolsonaro está em prisão domiciliar há um bom tempo e ninguém nem sequer se lembra. Ele caminha célere para o ostracismo. Ele, os generais, o almirante e os ex-ministros estarão, provavelmente no próximo mês ou em novembro, na Papuda e em Bangu. Penitenciárias que servirão de casa nos próximos anos. Talvez agora, a extrema direita tope discutir o falido e desumano sistema carcerário. Essa sim seria a grande contribuição a ser dada por esse bando pretensioso e arrogante.

 

É bom levar em consideração que outros grupos de militares graduados e ex-assessores estão prestes a serem julgados pelo Supremo. Todos serão condenados a penas altíssimas. Isso sim pode levar à certa pacificação do Brasil: responsabilizar e punir os golpistas.

 

Paralelamente, estamos acompanhando o processo contra o Eduardo Bolsonaro. O irresponsável tem se dedicado, publicamente, a cometer crimes contra o Brasil. Prepotente, dá-se ao direito de alardear seus crimes, diretamente dos EUA. Confessadamente. E ainda se lança candidato à Presidência da República! Vivem em um mundo em que a Terra é plana, o dinheiro é fácil e não parecem ter assessores que digam: “você vai ser preso, como falar em Presidência?”.  É um teatro de horror. E, aqui entre nós, esse é o habitat natural dos extremistas bolsonaristas: as sombras, o esgoto, a violência, a mentira e o engodo.

 

Vamos afastar e vencer toda essa teratologia. Lembrando-nos do inigualável Augusto dos Anjos:

 

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.”

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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