LULA: UM ESTADISTA NO MOMENTO CERTO!

“Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”
Clarice Lispector
Por mais que não esteja definida a grave e séria questão diplomática entre os EUA e o Brasil, uma coisa é certa: nós saímos maiores e mais respeitados internacionalmente e os EUA demonstraram que existe um movimento denso de degradação da hegemonia norte-americana. Dada a terrível, e quase patética, instabilidade do presidente Trump, tudo pode acontecer, inclusive nada. Um presidente da nação, até então mais poderosa do mundo, agir de maneira irresponsável, sem uma definição minimamente previsível e com arroubos infantis, sem dúvida, cria uma perigosa tensão e uma instabilidade entre os países.
Enquanto o mundo todo encara, perplexo e atônito, as jogadas estranhas, pueris e descontroladas do Trump, o Lula se afirma, com clareza, dignidade e força, como um estadista em um momento tão conturbado. O Brasil, sob o doce e firme comando do nosso presidente, soube se impor aos olhos do mundo. Sem maiores demonstrações de força, salvo a que emana da autoridade da soberania da independência de um povo livre e democrata. O Brasil não precisou gritar, não se exibiu, não foi pretensioso nem arrogante. Apenas disse a todos que aqui se vive numa Democracia, que o Judiciário é independente e que a nossa soberania é inegociável. Simples assim.
E mais importante ainda é que tal embate se dá em um momento extremamente delicado da história do Brasil. Estamos nos recuperando de 4 anos de uma gestão fascista e de terra arrasada. O Bolsonaro jogou o país nas cordas, destruiu boa parte das conquistas humanistas de anos de civilização, saqueou a economia, arrasou o meio ambiente, desestruturou a saúde, humilhou o país diante do mundo, enfim, tivesse tido mais 4 anos de governo, talvez o Brasil fosse irrecuperável.
Ainda agora, no meio da grave crise aberta pelo desgoverno norte-americano, estamos tendo que conviver com um deputado, filho do ex-presidente, montar uma estrutura golpista em solo dos EUA para tentar desestabilizar o Brasil. Algo inédito e que merece séria reprimenda. Desesperado por verem que as lideranças milicianas e fascistas do bolsonarismo, inclusive o chefe da organização criminosa, estão prestes a serem presas em presídios comuns, Papuda e Bangu, o resto da quadrilha tenta se organizar para dar continuidade à tentativa de golpe de Estado. Grave e preocupante.
Paralelamente às encetadas criminosas com que, covarde e solertemente, os traidores da pátria ousam, de maneira humilhante, entregar o país às autoridades norte-americanas, ainda temos que enfrentar um Congresso Nacional, que não se dá ao respeito.
Desesperados por estarem percebendo que boa parte da farra que fizeram durante o governo Bolsonaro está saindo do esgoto e o cheiro podre da corrupção começa a impregnar a sociedade, resolveram ousar um inescrupuloso projeto de impunidade para todo e qualquer crime. Um salvo-conduto que a diplomação para o Legislativo iria conferir ao miliciano, ao corrupto, ao estuprador, ao assassino e ao narcotraficante, enfim, para o crime. Tudo embrulhado em um projeto de anistia ampla e irrestrita para os golpistas que tentaram romper com a Democracia. Era o mundo ideal para os criminosos: anistiavam os crimes cometidos e proibiam de investigar os que estão em curso ou por vir. O paraíso perfeito para os bolsonaristas. Uma espécie de liberdade incondicional para os criminosos pois teriam segurança para todo e qualquer mal feito.
É triste ver que boa parte do Congresso Nacional está de costas para o povo brasileiro.
A reação vista nas ruas foi espetacular. O país se indignou. Não foi a esquerda que demonstrou sua repulsa. Foram os democratas, o cidadão que não faz política, que não quer mais o país dividido, que não suporta mais as baixarias bolsonaristas, as falsidades, as mentiras, a prepotência e o nome de Deus sendo usado em vão. Enfim, o país gritou um basta.
E, paralelamente a tudo isso, acompanhou a figura emblemática e digna do Presidente Lula nos representando com altivez. Com um sopro de esperança, acompanhamos a reação democrática e firme do Senado Federal. Em um tapa na cara de boa parte dos deputados, que haviam aprovado a PEC da impunidade, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, por unanimidade, enterrou a PEC chamada de “bandidagem”. Certamente, reflexo da reação digna do brasileiro que foi para as ruas dizer não aos criminosos.
A cena dos deputados rezando, de mãos dadas e em voz alta, no plenário da Câmara dos Deputados, agradecendo a Deus por terem aprovado o direito de cometer crime sem sequer serem investigados, além da urgência para o projeto da anistia, deu vergonha, engulhos, nojo e pena. Desonraram a fé que dizem professar, mas que, escancaradamente, apenas usam para enganar os incautos.
É fundamental continuar acompanhando os desdobramentos do embate político e econômico que os EUA impõem ao mundo. No caso brasileiro, inacreditavelmente incentivado por traidores bolsonaristas da pátria. Porém, é relevante destacar a reação emblemática do governo Lula e, especialmente, a postura digna do Presidente.
Tivéssemos na gestão o subalterno, ignorante e servil Bolsonaro, o Brasil estaria sendo rebaixado a um país sem dignidade e respeito. Dá vergonha lembrar a postura do então presidente de extrema direita a rastejar pelos encontros internacionais, sem sequer conseguir se fazer respeitar, causando tremenda humilhação ao se referir ao Trump com um ridículo “I love you!”. E tendo como resposta o desprezo solene.
Só é respeitado quem se faz respeitar. Mesmo arrogantes, como Trump, não consideram políticos que rastejam de maneira entreguista e subserviente. A hora é grave, mas estamos nas mãos certas. Lula e sua equipe resgataram o amor próprio do brasileiro. Fizeram o mundo ver que existe um país que se admira e não negocia a soberania, que preserva a Democracia interna com o respeito à autonomia dos Três Poderes e que quer discutir de igual para igual com todos os países livres em qualquer foro internacional. Ou seja, dá vontade de entoar, parafraseando o canto que se ouve nos estádios de futebol: “O Brasil voltou.” Obrigado, Lula.
Lembrando-nos do matuto Manoel de Barros:
“Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay