GUERRA E PAZ

 

Minha loucura, outros que me a tomem com o que nela ia. Sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa, no livro Mensagem

 

O Brasil precisa de paz. Está mais do que na hora do bando de fanáticos sair das ruas com essas manifestações burlescas que chegam a ser deprimentes de tão idiotizadas. São grupos desconectados da realidade, ora tentando fazer contato com extraterrestres, ora marchando cantando o hino nacional e batendo continência para eles próprios. Patéticos. Ridículos.

 

Se fosse tão somente o lado grotesco, isso passaria para a história como um deprimente espetáculo mambembe. Um circo no qual os palhaços não sabem que são palhaços e desonram tão nobre profissão. Mas ocorre que esses seres teratológicos resolveram fazer do ódio seu alimento. A violência foi banalizada. A impressão que passam é a de que existe uma disputa interna no exército de fanáticos para ver quem consegue ser mais caricaturesco e vulgar. A agressão verbal e os xingamentos têm como referência o líder da seita que, nos últimos anos, se especializou em ofender as mulheres, os negros e toda e qualquer autoridade do Judiciário que ousasse seguir a Constituição. A banalidade no trato das questões institucionais por parte do Presidente da República deu voz a um grupo que envergonha quem tem com um pingo de discernimento.

 

O final melancólico desse governo que optou pela farsa nos leva a uma série de reflexões. Já é hora de o país discutir o fim da reeleição. Nos últimos dois anos, o governo Bolsonaro cuidou exclusivamente de tentar se reconduzir. E a conta se apresenta cada dia maior, pois o país foi literalmente saqueado. O que se gastou nas eleições inviabilizou uma série de programas sociais. Como a condução do país foi catastrófica, estamos hoje com 33 milhões de brasileiros passando fome e sequer existe orçamento para pagar, por exemplo, os bolsistas universitários. O Brasil está quebrado.

 

Mesmo com o derrame criminoso de verbas, com o uso malicioso do orçamento secreto, com o escancarado controle da coisa pública em prol de interesses pessoais e com a estrutura própria da Presidência, Bolsonaro não conseguiu se reeleger. Tem que ser realmente um Presidente desastroso para perder uma reeleição. Um Ministro desse governo que agoniza disse que, para ser reconduzido, bastava o Presidente ter se vacinado, ou comprado a vacina, não ter se exposto contra o Judiciário, tencionando a ruptura institucional, não ter xingado as mulheres e não ter desprezado a dor dos que morreram na pandemia. Ou seja, se não fosse ele o Bolsonaro, teria sido reeleito. Simples assim.

 

A realidade é que, para passar o Brasil a limpo e criar condições para um crescimento estável, é necessário um plano de médio a longo prazo. Para isso, não tenhamos dúvida, precisamos derrotar não só o Bolsonaro, mas essa seita estranha e diabólica que tomou corpo no país. Se não fizermos o enfrentamento desse grupo, dentro das normas constitucionais e com o devido respeito às garantias individuais, podemos nos preparar para, em quatro anos, estarmos todos mergulhados novamente no messianismo fascista que humilha o país frente ao mundo. E, talvez, até lá, os extraterrestres tenham se unido aos imbecis e dominado o que resta de racionalidade na terra.

 

Lembrando-nos de Augusto dos Anjos, no poema Tempos Idos: “Não enterres, coveiro, o meu Passado, tem pena dessas cinzas que ficaram; eu vivo dessas crenças que passaram, e quero sempre tê-las ao meu lado!

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Publicado no O Dia.

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