A TURMINHA DOS DIREITOS HUMANOS

“É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Pensamento atribuído a Fernando Pessoa

O Brasil ficou monotemático. A gravidade da tentativa do golpe fez com que essa passasse a ser a única pauta. E enquanto isso, a extrema direita avança despudoradamente. Com a perspectiva real de condenação e prisão do Bolsonaro e de parte do seu bando, começam a surgir os “herdeiros” do seu espólio. São vários grupos que já se arvoram como pretendentes a ocupar o espaço que, fatalmente, será deixado por aqueles que serão presos. E é interessante observar os métodos que estão sendo levados a conhecimento público.

Durante um bom tempo, o destempero e o baixo nível do ex-presidente Bolsonaro fizeram com que alguns bolsonaristas colocassem as barbas de molho. Era muita agressão verbal, xingamentos a ministros do Supremo, uso de palavras de baixo calão para se referir aos invisíveis sociais, enfim, uma verdadeira baixaria institucionalizada. As pessoas mais próximas, claro, assimilaram a maneira bolsonarista de ser e o que se viu no país foi um verdadeiro show de horror. A política feita com inteligência e dentro dos limites democráticos foi solenemente desprezada. Passaram a fazer parte do imaginário político o desatino, a falta de ética e, principalmente, como estratégia, as mentiras e os ataques às instituições.

Agora, o conjunto que ainda não está sendo processado, mas que viveu os últimos tempos à sombra desse modo bolsonarista de ser, está se reposicionando. Há uma natural disputa pelo vazio que será deixado com os processos e a prisão. Nesta semana, o governador do Rio, Cláudio Castro, resolveu se colocar no tabuleiro bolsonarista revivendo frases de efeito que até mesmo o grupo mais próximo do Bolsonaro vem tentando abandonar. Com a proximidade do encarceramento e com o fato de importantes líderes daquele governo já estarem presos, inclusive um general 4 estrelas, há uma tentativa de abrandar certas frases chulas. Não pega bem para eles o velhão refrão: “bandido bom é bandido morto”. Pega mal.

Mas o aceno à ultra direita é importante para marcar e delimitar espaços. Afinal, os órfãos da truculência verbal, e também dos métodos do bolsonarismo, estão à procura de representantes.

O governador resolveu dar alguns passos atrás e reviver opiniões que pareciam em desuso. Ao anunciar que vai determinar à “sua” polícia que dê respostas “duras”, levantou o velho bordão: “já vou avisando à turminha dos direitos humanos não encham o meu saco”. É uma espécie de defesa prévia dos abusos que o próprio governador apregoa em nome do Estado.

Esse é um momento delicado da Democracia no mundo. Enquanto Trump propõe verdadeira limpeza étnica e prega barbáries contra os direitos humanos, no Brasil, a extrema direita se posiciona para defender a institucionalização da violência como método de agir do Estado. Os espaços democráticos se fecham e boa parte dos democratas foge do debate.

Sempre bom nos lembrarmos de Manoel de Barros: “A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras me aceitam como sou – eu não aceito”.

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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