ARMÁRIO DE MEDOS E SEGREDOS

Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.

Bertolt Brecht

 

A insensibilidade é a característica dos sádicos. Desde as primeiras manifestações do hoje Presidente Bolsonaro, ainda quando Deputado, ele se demonstrava naturalmente insensível. E arrotava – com um orgulho inexplicável – uma arrogância, própria dos medíocres, e uma violência, própria dos covardes. Quando votou no impeachment da Dilma, evocou no plenário da Câmara a figura criminosa e assassina do torturador Brilhante Ustra. E num crescente orgulhoso da sua própria ignorância, agrediu verbalmente uma Deputada, no salão verde da Câmara, ameaçando-a de agressão e vociferando que não a estupraria “por ela ser feia”. São inúmeros os casos de baixaria e agressão: contra os negros, com seu viés preconceituoso; contra a comunidade LGBTQIA+, numa demonstração psicanalítica da sua insegurança. Um armário que guarda medos e segredos.

 

À época, parecia ser só algo natural e definidor de um caráter. Era a identificação espontânea de um tipo que, julgávamos, faria sucesso em bares vazios e grupos obscuros e medíocres. Mas, muitas vezes, a realidade supera qualquer ficção. Logo, pôde-se perceber que esse estilo tinha um forte componente eleitoral e midiático. Há um sem-número de idiotas loucos para serem tangidos por alguém que faça esse estilo. E um outro número enorme de pessoas que se interessam por um governo que tenha a “coragem” de passar a boiada em todas as áreas e entregar o nosso Brasil de bandeja para o saque.

 

No primeiro grupo, estão todos os que são também misóginos, racistas, sexistas, agressivos, os que não assumem sua sexualidade e os que veem na postura de um bárbaro uma “coragem” que eles não têm. No outro, estão os espertos e inescrupulosos ávidos por poder e dinheiro. Não leram Florbela Espanca: “Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.

 

Com essa visão, o que fez o grupo bolsonarista foi profissionalizar a estupidez. A agressão como método de governo e de manutenção do poder. A mediocridade como meta. Para isso, o Presidente se cercou desses personagens grotescos, a se infiltrarem no parlamento, no Poder Executivo e tantos outros espaços de poder antes ocupados por verdadeiros estadistas, progressistas, humanistas. Era preciso apostar e investir na ignorância. E o ataque aberto à cultura, à educação, à saúde e a todos os outros setores virou norma e programa de governo. Nada é por acaso, é uma estratégia de poder. A política de terra arrasada favorece os bárbaros. Tenho repetido que o que vivemos não é uma disputa entre esquerda e direita, é entre civilização e barbárie. A extrema direita rasgou a fantasia e caiu na vida; assumiu que ser bárbaro fala diretamente a milhões de pessoas. E gostou. Como já cantou o irreverente Cazuza: “Brasil! Mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim.

Brasil! Qual o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim.

 

E para manutenção do poder, um grupo dessa estirpe não tem limites. O próprio Presidente cuida de testar e fustigar diariamente as instituições democráticas. A tensão permanente, por parte do Executivo, entre os poderes constituídos é uma maneira de alimentar os bolsonaristas ensandecidos ou simplesmente os que seguem o som do berrante. E, para aquele segundo grupo, tem o Brasil inteiro aberto e ávido para ser saqueado. E nossa riqueza é quase inesgotável. Para quem não se sensibiliza com os milhões de desempregados, com os 33 milhões de brasileiros passando fome, com os milhares morando nas ruas, com a derrocada dos serviços de saúde e com o aviltamento da educação, da cultura e da ciência, para eles, o país vai indo muito bem e o leite jorra, quente, das tetas abertas e escancaradas.

 

Por isso as eleições de outubro são a única saída. Derrotar esse projeto fascista instalado no país e dar chance a todos nós de termos um Brasil de volta. Vai ser um longo e árduo caminho de reconstrução dos escombros. O esfacelamento das estruturas democráticas dará um trabalho danado para ser enfrentado, mas não existe outra hipótese. É vencer e reconstruir o país ou aprofundar o caos. E para não corrermos o risco, que é real, de uma ruptura constitucional, a vitória tem que vir em 2 de outubro, no primeiro turno. Para diminuir a ameaça de a sanha golpista se insurgir contra uma derrota nas urnas no segundo turno.

 

Todos os que querem preservar os valores democráticos devem estar nesse mesmo movimento. O rio só tem 2 margens e não há espaço para uma terceira via. Socorro-me na imortal Clarice Lispector: “O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas.

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Publicado no Poder 360.

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