Cai o rei de ouro, cai o rei de espada, cai o rei de paus, cai…não ficará nada!

A natureza é a diferença entre a alma e Deus.

Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.”

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego.

 

Eu fiz uma promessa de não mais falar sobre estes medíocres e indigentes intelectuais que se aproveitaram de um momento tormentoso da história do Brasil para usar o Judiciário e o Ministério Público como trampolim para ganhar dinheiro, prestígio e fazer política. Em 2014, esses falsos heróis eram tratados como salvadores da pátria.

 

Num conluio macabro, que redundou em Bolsonaro Presidente, esse grupo, sem nenhum limite ou escrúpulo, coordenado pelo ex-juiz de Curitiba e ex-ministro da Justiça, lambuzou-se e usurpou a credibilidade do povo brasileiro. Quando você faz um acordo com o sistema norte-americano e com a grande mídia, que representa a elite financeira e os empresários ávidos para dar o bote no erário, qualquer medíocre se apresenta como o detentor da credibilidade nacional. Foi nesse momento que eu resolvi enfrentá-los e desnudá-los. Hoje, como cachorros mortos que qualquer um chuta, resolvi simplesmente desprezá-los e ignorá-los.

 

Nesta semana, recebi manifestações de ministros do Supremo, do Superior Tribunal de Justiça, de senadores, de ministros e de governadores, todos na mesma linha: “como é que você bateu tanto nesse povo praticamente sozinho, desde 2014, quando eles eram os amados, não só da grande mídia, mas tinham nas mãos todo o aparato de persecução? ”.

 

Nunca tive essa resposta, até porque, para mim, era natural fazer aquele enfrentamento. Eu só denunciava o que considerava correto e justo denunciar. Como mineiro do interior de Minas, sentia-me à vontade para desvendar as bandidagens. Passei a correr o Brasil apontando as inúmeras falcatruas e, principalmente, a corrupção ao sistema de Justiça protagonizado por esse grupo que, além de medíocre, é insidioso e preocupante. Mesmo os Tribunais Superiores, certa época, flertaram com eles em estranha cumplicidade.

 

Como todo grupo midiático, a tendência natural é criar seguidores. Foi assim com uma Juíza Federal de Cuiabá, que se intitulava “Moro de saia”. Arrogante e arbitrária, usava a toga para humilhar os investigados e os réus com o objetivo claro e direto de fazer política. Da mesma maneira que o seu mentor, deixou a toga e candidatou-se ao Senado. Foi cassada por caixa 2 e abuso de poder econômico no primeiro ano de mandato. Esse é o perfil dos que buscam manipular a vontade popular com o uso das funções públicas. Como nos ensinou Hilda Hilst, “Descansa. O Homem já se fez. O escuro cego raivoso animal, que pretendias”.

 

Agora, o CNJ afastou o juiz morista Bretas, do Rio de Janeiro, após instaurar uma investigação dentro do Conselho. Esse magistrado era a personificação da malfadada Operação Lava Jato carioca. Era um Moro carioca. E, pelo visto, inclusive nos métodos. Muito recentemente, o Conselho Nacional do Ministério Público Federal puniu o procurador responsável pela condução da Operação em terras cariocas. É o cerco se fechando. É o que eu anunciava em palestras, debates, artigos e programas de televisão pelo Brasil afora desde 2014.

 

O líder maior e o seu procurador de estimação buscaram refúgio no Parlamento. Não deixa de ser curioso, pois foram eles os principais responsáveis pela criminalização da política. O descrédito do Poder Legislativo junto à população, em boa parte, deve-se à maneira calculada e deliberada com que a Lava Jato atacou os parlamentares. Fazia parte da estratégia política do grupo lavajatista, que só visava ao poder, desestruturar a política e fazer o jogo fascista da não política. Que, em parte, foi o que elegeu Bolsonaro e seu bando. Claro que o ex-Presidente contou com o auxílio luxuoso do então juiz Moro para tirar da disputa, levando-o a uma injusta prisão, o candidato líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva. E o prêmio foi o Ministério da Justiça. Essa história ainda não acabou e, em um regime democrático, cabe ao Ministério Público, à Polícia Federal e ao Poder Judiciário o esclarecimento cabal desse conluio.

 

Devo reconhecer que, quando o Supremo Tribunal julgou a parcialidade e a incompetência do ex-juiz, do seu grupo e da vara com competência universal de Curitiba, ouvi e li os votos como se voltasse a um passado recente no qual eu usava exatamente as mesmas expressões utilizadas pela Suprema Corte. Claro, nos votos, técnicos e sóbrios, não cabia a minha natural irreverência que, às vezes, beira certa ironia e virulência verbal. Era exatamente o que eu falava Brasil afora, só que com as palavras usando toga, com pompas e circunstâncias.

 

Lembrando-me de Leminski, no poema para a liberdade e luta:

 

me enterrem com meu coração

na beira do rio

onde o joelho ferido

 tocou a pedra da paixão.”

 

Hoje, já não restam mais dúvidas dos abusos, dos excessos e dos crimes cometidos pelo grupo lavajatista em nome de um projeto de poder. Chegaram a ascender ao poder, mas caíram de podre. Os que ainda se sustentam, andam rumo ao cadafalso. Insisto que devemos dar a esse grupo todos os direitos e garantias que eles negaram aos seus perseguidos. A Democracia só se fortalece com o respeito às garantias constitucionais da ampla defesa, do devido processo legal, da presunção de inocência e do direito de só serem submetidos à prisão após o trânsito em julgado. São direitos pelos quais lutei e quero que eles usufruam. Agir diferente seria igualar-me a eles, seria ceder à barbárie.

 

E, como essa história se repete, não consigo deixar de lembrar, novamente, de um caso ocorrido na cidade da minha infância, Patos de Minas. Recorro-me a ela sempre que me questionam como um humanista, com formação garantista e advogado de defesa, acaba curtindo algumas condenações:

 

Eu morava em uma cidade pequena e nela existiam dois bêbados tradicionais: um gaúcho e um baiano. Eles se atacavam toda noite e prometiam matar um ao outro. Um dia, o gaúcho apareceu morto. A polícia nem duvidou, prendeu o baiano.

O juiz da Comarca foi fazer o interrogatório e perguntou ao baiano:

– Você matou o gaúcho?

O baiano respondeu:

– Achá bão é crime?

O juiz, perplexo:

– o que significa?

O baiano respondeu:

– Matá não matei não, mas achei bão demais ele ter morrido!!!

 

Sempre evocando a grande Clarice Lispector, “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

 

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