COERÊNCIA CONSTITUCIONAL
“Em tudo quanto faças sê só tu, em tudo quanto faças sê tu todo.”
Pessoa, na pessoa de Ricardo Reis
O mundo inteiro acompanhou as notícias sobre a busca e apreensão realizada pelo FBI na casa do ex-Presidente dos EUA, Donald Trump. É bom ressaltar que quem deu a notícia em primeira mão foi ele mesmo, que postou contando que os agentes estavam vasculhando sua residência.
Acompanhamos nos jornais americanos e, claro, a notícia repercutiu, mas não houve nenhuma espetacularização. E nada de coletiva de imprensa logo após a operação e nenhuma nota oficial que desse uma dica do motivo da busca.
Apenas 3 dias depois, o secretário responsável pela operação informou que o que se buscou e apreendeu foram documentos sigilosos e secretos. Começou então a se cogitar, sem estardalhaço, em espionagem e obstrução de justiça. Nenhum power point apareceu. Não houve uma entrevista para autopromoção e muito menos exposição de imagens internas da residência que servissem para humilhar o ex-Presidente.
Recordo-me que, no auge da Operação Lava Jato, fui à Suíça, em Genebra, encontrei-me com um cliente e o advogado suíço que era meu correspondente na Europa. Ele me avisou que no outro dia sairia uma longa matéria sobre o caso no principal jornal do país. No outro dia, no café da manhã, procurei ávido pela matéria. Não encontrei e liguei para o advogado, feliz; porém, ele me disse que a matéria ocupava toda a página 3 do caderno principal. Eu, acostumado com o massacre lavajatista na mídia brasileira, não havia visto, pois só saíram as iniciais do cliente e sem nenhuma foto.
Isso serve para demonstrar o quanto a Lava Jato, o Moro e os seus assessores procuradores fizeram mal ao sistema de justiça. Corromperam-no para objetivos pessoais, para atender a um projeto de poder. Ridículos personagens de uma ópera bufa. Indigentes intelectuais com uma ambição desmedida e sem limites éticos. Instrumentalizaram o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal. Boa parte deles agora respondem a processos e a investigações criminais. Alguns procuradores foram condenados, pelo TCU, a devolverem o dinheiro que foi saqueado do erário público. Até mesmo numa apuração envolvendo lavagem de dinheiro o subchefe da Operação Lava Jato, Deltan, é investigado no Paraná. Como ensinou o grande Carlos Drummond de Andrade, “Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.”
Mas nós devemos manter nossa coerência constitucional. Certamente, o Trump tupiniquim logo vai estar sob os holofotes da Justiça Criminal. Não devem demorar as investigações criminais para responsabilizar o Presidente e vários familiares e auxiliares. Assim como está acontecendo com a Força-Tarefa, que já caiu de podre. Cheira mal de longe. O cheiro do esgoto que exala da sarjeta na qual viviam.
É necessário dar a eles todos os direitos que eles negaram aos cidadãos investigados por eles próprios na Operação Lava Jato. Sem exposição midiática, sem uso indevido das imagens e com direito à ampla defesa e ao devido processo legal. Inclusive, ironia das ironias, que sejam recolhidos ao cárcere somente após o trânsito em julgado.
Como diz o poeta baiano, “a vida dá, nega e tira.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay