COVARDE. INDIGNO DO CARGO!
“Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
(…)
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles.”
Moraes Moreira, Cordel Quarentena
O Brasil ficou perigoso para o cronista semanal. A evolução dos absurdos diários faz com que corramos o risco de nosso artigo ficar velho antes de ser lido. Tenho enfatizado que, apesar de todas as atitudes obtusas e sem nenhum cuidado jurídico, afrontosas mesmo, o ideal é só determinar a prisão do Bolsonaro após o julgamento e o trânsito em julgado da decisão condenatória.
Escrevo isso em respeito à coerência constitucional que corresponde a uma história de vida. Pela milésima vez, repito: não podemos usar os métodos da barbárie que derrotamos. Mas é incrível como esses meliantes bolsonaristas insistem em esticar a corda. Parecem estar realmente jogando com o caos. Querem forçar a prisão para insuflarem um discurso raivoso. Irresponsáveis e sem compromisso nenhum com a Democracia e com a estabilidade institucional.
As hipóteses de ruptura vão se avolumando. Depois de ficar cada vez mais óbvia a participação do ex-presidente nos atos golpistas de 8 de janeiro, com provas abundantes e inequívocas, a estratégia de enfrentamento do processo no STF é insana. O ex-presidente abandonou a defesa técnica e partiu para o confronto direto com o Supremo Tribunal. Claro que não com a agressividade vulgar que caracterizou seu desprezo pelas instituições, quando usou palavras de baixo calão contra ministros e propôs fechar a Suprema Corte. Mas optou por uma defesa política, e não técnica, no processo de 8 de janeiro, com subterfúgios, porém tentando emparedar o Judiciário.
A cada dia, a pequenez do ex-presidente se evidencia. Aquele indivíduo que nos envergonhava mundo afora é o real. Sua obtusidade é acachapante. E os fatos e o tempo vão fazendo um contorno da sua mediocridade e covardia.
Quando Lula foi levado à prisão de maneira ilegal, injusta e criminosa por Moro, na sua sanha de poder, ele teve muitos pedidos, inclusive internacionais, para resistir. Era uma prisão política. Prisão covarde e para humilhar. Ele demonstrou o seu tamanho quando se negou a descumprir a ordem do Judiciário. Mesmo sendo uma decisão de um juiz sem moral, sem respeito e sem caráter. Mas era um juiz e representava o Judiciário. Não aceitou nenhuma opção que lhe foi apresentada. Foi preso por longos 580 dias. E libertou o país com sua prisão.
Agora vem a inacreditável história do covarde Bolsonaro tentando fugir de uma decisão, que não existia, do Supremo Tribunal. A atitude do ex-presidente foi forjada pelo pavor e pelo desespero dos que não têm a dimensão histórica do que é ter sido Presidente da República. Absolutamente humilhante um ex-presidente, com medo, pois sabe o que fez, ir se esconder na Embaixada da Hungria, por dois dias, colocando o Brasil em posição de tristeza e de rebaixamento institucional. É asqueroso esse grupo que governou o Brasil.
No mesmo dia em que o país prende alguns milicianos que mandaram matar Marielle, somos submetidos a um vexame internacional. Imagens vindas a público pelo New York Times mostram um ser repugnante buscando refúgio em uma embaixada. Escondendo-se. Com medo. Talvez a cena mais degradante de um dignatário brasileiro. Que horror. Que vergonha. Que afronta.
Sempre defendi que o cidadão tem o direito de fugir e de não se submeter a uma ordem de prisão e isso não deveria ser motivo para fundamentar a custódia preventiva. Sou coerente. O maior ministro do Supremo Tribunal, Sepúlveda Pertence, tinha votos nesse sentido. Mas o STF mudou a jurisprudência e o ato do ex-presidente se enquadra perfeitamente na hipótese de uma prisão preventiva. Penso até que vai tumultuar o quadro político, mas chega de tanta humilhação com a figura da Presidência da República e de tanto acinte aos poderes constituídos, especialmente à Suprema Corte.
Bolsonaro, embora com milhões de seguidores, tem que ser contido. Se não pela ética e pelo respeito ao cargo que ele ocupou, pela necessidade de manter a estabilidade democrática. Ele usurpa a dignidade.
Remeto-me a poesia de Miguel Torga:
“Guarde a sua desgraça
Ó desgraçado.
Viva já sepultado
Noite e dia.
Sofra sem dizer nada.
Uma boa agonia
deve ser lenta, lúgubre e calada.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay