O voto da esperança

Correndo o risco de ficar repetitivo, volto ao tema da necessidade de vencer as eleições no primeiro turno. Fazendo a ressalva, óbvia, de que nada está definido, pois eleição não se ganha de véspera. Afinal, num sistema presidencialista, é muito difícil o presidente em exercício não disputar o segundo turno. Na verdade, o natural é a reeleição. E, pasmem, o projeto neofascista tem um apoio consolidado de, pelo menos, 30% da sociedade brasileira. É melhor encararmos de frente o enorme fosso que está aberto tragando e sugando as forças e a esperança do país.
A narrativa do ódio tem uma base sólida e, além do grupo que se assume racista, misógino, violento, cultor da tortura e da morte, temos uma multidão dentro dos armários – enrustidos e fanáticos prontos a apoiar, no voto ou na violência, a barbárie institucionalizada. Quando o esgoto é aberto, fica difícil segurar o que sai das entranhas da podridão. Eles alimentam-se da escatologia.

Depois que lançamos o Manifesto ao Brasil, no qual conclamamos o brasileiro a votar em Lula no primeiro turno, como uma maneira de dar chance ao processo civilizatório e derrotar a barbárie, muitas vozes se uniram. Um ponto foi levantado e passou a ser motivo de reflexão: o risco institucional que corre o país entre o primeiro e o segundo turnos. E a violência que pode dominar a sociedade brasileira nesse período. O grupo que está no poder não se acanha de deixar explícito que vai questionar o resultado das urnas.

A agressividade do presidente da República e seu bando, ao questionar a Justiça Eleitoral, mereceu dura e digna resposta por parte do Tribunal Superior Eleitoral. Mas esse embate público parece ser uma preparação para a quebra da institucionalidade por parte dos bolsonaristas. Esse é um motivo a mais para, em nome da democracia, nos unirmos em torno da necessidade da eleição em primeiro turno.

A insanidade é tanta que o presidente coloca em dúvida até mesmo o processo eleitoral que ele ganhou. É um completo nonsense, mas, não tenhamos dúvidas, todo esse questionamento segue um roteiro. Foram diversos os movimentos na direção da quebra do Estado democrático de direito. A ruptura institucional não se deu por absoluta falta de poder por parte desse grupo golpista. Mas ainda ronda espreita, de maneira silenciosa, o nosso dia a dia.
E será exatamente no período compreendido entre 2 e 30 de outubro, nesses 28 dias entre os dois turnos, é que nós poderemos viver o recrudescimento da violência e uma perigosa explicitação da manutenção do poder a qualquer custo. A ansiedade revela-se nos modos truculentos de quem sabe que pode trocar os palácios pelas masmorras. E vai piorar. O Brasil não merece isso.
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É necessário voltarmos a uma normalidade democrática, na qual as pessoas possam cuidar de serem felizes. Simplesmente felizes. Mesmo com toda a crise, é possível ter um projeto de país que não nos sufoque. É imprescindível tirar a venda que nos cega coletivamente, derrubar os muros que nos separam e respirar fundo sem medo da toxidade que hoje está impregnando o ar.
É urgente que os ares democráticos voltem a dominar o povo brasileiro. Se afastarmos o fascismo, nós teremos como sair do círculo de giz imaginário que nos aprisiona. E para isso, a saída é votar no Lula no primeiro turno. Não dar chance à violência que se anuncia entre o indesejado espaço de tempo entre os dois turnos. Façamos essa reflexão pelo Brasil e por cada um de nós. E, lembrando sempre do nosso Pessoa, “A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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