Obrigado, Vinícius Junior
“Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam.”
Martin Luther King
Quando as garras do fascismo fincam as unhas em um país, sabemos que, por um longo tempo, as raízes do ódio e da violência farão companhia a esse povo. O preconceito, o racismo, a misoginia e o machismo são filhos direto do fascismo e impregnam a todos os que vivem sob o jugo do obscurantismo. O “generalíssimo” Francisco Franco foi ditador na Espanha de 1936 a 1975 e, obviamente, a desgraça fascista deixou rastros e consequências graves. Um tirano por 39 longos anos produz enorme impacto na formação de uma nação. Em todas as frentes, inclusive no futebol.
O episódio repugnante de racismo explícito contra o jogador do Real Madrid Vinícius Júnior, no jogo contra o Valencia, é de revoltar e de levar a uma profunda reflexão.
Importante ressaltar que o presidente da La Liga, Javier Tebas Medrano, teve a ousadia de cobrar uma “explicação” do jogador, ao invés de se posicionar clara e fortemente contra a discriminação que vitimou Vini Jr. e a todos nós por tabela. Uma manifestação grotesca que equivale a um apoio explícito ao crime de racismo. É bom ressaltar que esse dirigente apoia o movimento VOX de ultradireita e alinhou-se ao Fuerza Nova, que defende a volta dos princípios do nazista Franco. Marcas dessa praga do fascismo em uma Espanha que ainda não conseguiu se libertar da dominação malévola.
Esse suporte implícito é que faz com que seja a sexta vez, só neste campeonato espanhol, que a torcida se sinta à vontade para atacar covardemente o jogador do Real Madrid, que acabou expulso após as ofensas. Para homenageá-lo, cito Haile Selassie, imperador da Etiópia, com uma frase que ele, Vinícius, tatuou em seu corpo, “Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho nos olhos, haverá guerra”.
Essa omissão criminosa não revela somente o fascismo incrustado na La Liga, mas, também, na grande imprensa espanhola. O episódio não ocupou nenhuma capa dos grandes jornais e nem foi objeto de protestos contra essa violência. Como era uma manifestação orquestrada da torcida do Valência, e não um episódio de um torcedor isolado, sendo que já havia ocorrido cinco vezes no mesmo campeonato, era o caso de se paralisar a partida, o Real Madrid sair do campo e o time da casa perder não só os pontos, mas o mando nos próximos jogos. Sem obstar, óbvio, as necessárias providências para responsabilizar criminalmente os fascistas torcedores.
Foi muito digna a postura elegante do treinador do time, Carlo Ancelotti, após o jogo, ao ser questionado, em entrevista coletiva, sobre a partida. Com incontida irresignação, ele perguntou à jornalista se ela queria falar sobre futebol, pois ele só estava disposto a tratar do episódio de racismo que havia vitimado o jogador do seu time. E, mesmo sendo pressionado, manteve-se, com elegância, na firme disposição de só se manifestar sobre aquelas atitudes odiosas que envergonhava a todos.
O comportamento nobre e corajoso do Vinicius Júnior fez o caso tomar a dimensão merecida. Depois de certa letargia, parece que o mundo acordou. No Brasil, o governo – através do Presidente Lula e dos ministros Flavio Dino, Sílvio Almeida, Anielle Franco, entre outros -, teve uma atitude proporcional à revolta das pessoas contra esses atos racistas.
Estamos saindo de 4 anos de um regime fascista e opressor. O ex-presidente Bolsonaro era um cultor do fascismo e desprezava os pretos. Somente após a repercussão internacional, a Polícia espanhola prendeu 7 suspeitos de ofenderem o jogador. E todos esperam a postura dos grandes patrocinadores da La Liga – como Santander, Puma e Microsoft. A imagem do Cristo Redentor com as luzes apagadas sob uma lua brilhando falou mais forte do que mil discursos. Obrigado, Vinicius Júnior, a sua postura nos enche de orgulho e a sua luta é a de todos os que abominam as atitudes racistas.
Remeto-me a Maya Angelou:
“Você pode me fuzilar com suas palavras,
E me cortar com o seu olhar,
Você pode me matar com o seu ódio,
Mas assim, como o ar, eu vou me levantar”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay