A CHANCE DO RIO

O velho abutre é sábio

e alisa suas penas.

A podridão lhe agrada

e seus discursos

têm o dom de tornar

as almas mais pequenas.”

Sophia de Mello Breyner, poema “O Velho Abutre.”

 

 

É claro que, pela presença de um fascista na Presidência da República, os olhos do mundo inteiro, especialmente os dos brasileiros, estão todos voltados para a eleição do dia 2 de outubro. O fascismo fincou seus dentes em boa parte da população brasileira. Um número inimaginável de pessoas se permitiu assumir um lado podre, misógino, racista e homofóbico, sem nenhuma empatia com a dor do outro.

 

Esse grupo, bastante significativo, tem na tortura, no culto à morte e no desprezo aos valores humanistas o seu ideal de realização pessoal. São imorais e aéticos. Sentem orgasmos quando o líder deles afirma ser “imbroxável” ou quando alguém filma a humilhação da mulher que passava fome e precisava receber uma marmita. Esse filme do bolsonarista desdenhando de uma senhora que disse que iria votar no Lula, é a cara dessa escória humana. Ele faz questão de gravar para se vangloriar entre os seus iguais. É covarde. É vil. É desumano. Por isso, é necessário derrotar o bolsonarismo pelo voto, democraticamente, logo no primeiro turno. Para depois resgatar o Brasil.

 

Mas é preciso também voltarmos nossos olhos para o Rio de Janeiro. Aquele estado, que já foi o símbolo de um Brasil alegre, feliz e civilizado, virou uma mancha disforme e um lugar sem lei. Dados impressionantes assustam: 65% do território do Rio é hoje ocupado pela milícia e 15% pelo tráfico. Sobram, quase tão somente, as praias e os cartões postais. Mas é no estado todo que mora o povo trabalhador e honesto do Rio de Janeiro.

 

Nos últimos quatro anos, 6 governadores foram presos ou afastados, acusados de saquear o erário público. O atual Governo, contando o governador afastado e o vice que assumiu, já conta com a prisão de 5 secretários de Estado.  Inclusive, o que era responsável por combater o crime em nome do atual governador.

 

Sem fazer pré-julgamento, uma coisa chama muito a atenção para quem observa o Rio: nada disso parece impressionar o eleitor. Estão como que anestesiados. O crime foi banalizado e incorporado à paisagem carioca. Assim como a milícia substituiu em boa parte o estado, a noção do que é certo e honesto deixou de ser um critério. A prisão é como se fosse um puxadinho do Palácio das Laranjeiras, ninguém mais fica indignado.

 

O recente escândalo – que revelou que um grupo ligado ao Governo queria produzir provas falsas para incriminar o prefeito e o ex-presidente da OAB para levá-los à cadeia e afastá-los das eleições – deveria ter paralisado o Rio e escandalizado os cidadãos, dado ensejo, no mínimo, a uma CPI. Nada aconteceu, salvo uma ou outra matéria jornalística. O embrutecimento da política carioca não dá margem a nenhuma indignação cívica. É como se todos estivessem no mesmo lamaçal, sem haver diferença entre as pessoas decentes e os responsáveis pela tragédia estadual.

 

Por isso, é necessário prestarmos atenção no candidato Marcelo Freixo. Um professor que abraçou a política com rara coragem e determinação. Como deputado estadual, presidiu a CPI das milícias que colocou na cadeia mais de 200 pessoas ligadas ao flagelo do crime organizado. Sentiu na vida pessoal a força bruta dos milicianos ao ter um irmão morto covardemente. Como deputado federal, trabalhou nas grandes causas nacionais. E tem disposição e preparo intelectual para enfrentar o caos instalado no Rio de Janeiro.

 

É essencial não somente tirar o atraso representado pelo Bolsonaro, mas também dar uma chance ao sofrido povo carioca afastando do Governo esse grupo que tomou de assalto o estado do Rio nos últimos anos. Vamos dar uma chance para que a dignidade volte a ter espaço na vida do cidadão honesto do Rio de Janeiro. É preciso dar o primeiro passo e é pelo voto consciente que podemos começar a caminhada. Vamos fazer isso dia 2 de outubro: pelo Brasil, pelo Rio e por cada um de nós.

 

Lembrando-nos de Ortega y Gasset: “Caminhe lentamente, não se apresse, pois o único lugar ao qual tem que chegar é a si mesmo.”

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Publicado no O Dia.

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